quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

Qual o impacto dos poços nos lagos do Parque do Ingá?

 A série Parque do Ingá 50 anos: Preservar hoje para comemorar sempre tem como proposta apresentar informações relacionadas ao histórico e os desafios para o futuro dessa Unidade de Conservação que no ano do seu cinquentenário (2021) enfrenta grave problema de seca dos seus lagos. 

Os primeiros quatro episódios desta série compõem a descrição dos relatos feitos pelos palestrantes convidados para Reunião Pública: “Os lagos do Parque do Ingá estão secando. O que fazer?”. O evento em questão foi realizado no dia 29 de setembro de 2021, no Plenário da Câmara de Vereadores de Maringá, reunindo representantes do Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente - COMDEMA, Comissão de Direito Ambiental da OAB Maringá, Sanepar e Secretaria de Meio Ambiente e Bem-Estar Animal de Maringá. A comunidade presente também participou com perguntas e considerações que enriqueceram o debate sobre a temática. 

O material será apresentado em episódios para destacar as contribuições de cada especialista. Neste terceiro episódio intitulado Qual o potencial impacto dos poços nos lagos do Parque do Ingá? o relato é de Sérgio Augusto Portela - Gerente Geral da SANEPAR para Região Noroeste

 

Episódio 3: Qual o potencial impacto dos poços nos lagos do Parque do Ingá?

"A Sanepar vem acompanhando com muita preocupação, principalmente em relação às fontes alternativas de abastecimento que cada dia mais se multiplicam, não só na cidade, mas principalmente aqui nesta região. A gente preparou uma apresentação bastante técnica para tentar trazer mais elementos do que vem ocorrendo na cidade de Maringá.

Quando eu vim para Maringá, uma das minhas principais impressões da cidade, era arborização e parques. Então é com muita tristeza que a gente vê o que vem acontecendo ao longo dos anos, devido a degradação. Talvez por conta da verticalização excessiva do entorno do parque, que acabou gerando esse problema interno.

A SANEPAR desenvolveu um estudo baseado nas fontes alternativas, com análise dos poços particulares que existem nas proximidades do Parque do Ingá. Nesse sentido, preparamos um histórico ao longo dos anos do que vem ocorrendo, e concluímos que os poços particulares podem ter correlação direta com a redução do nível do lago.

A área delimitada da pesquisa é um polígono compreendido entre as seguintes ruas e avenidas: Getúlio Vargas, Cerro Azul, Juscelino Kubitschek, Mem de Sá, Nardina Rodrigues Johansen, Furtado de Mendonça, Mauá e Joubert de Carvalho. Esta é a área que a gente acredita que tenha maior influência dentro do entorno do manancial que pode estar influindo na redução da vazão da água do lago.

Apresentamos uma evolução da verticalização do entorno do Parque do Ingá, retirada da imagem do Google Earth dos anos de 2003, 2010 e 2021, que dá para ter uma noção de como era a cidade e de como ela está. É possível verificar nas imagens, comparando a de 2010 e de 2021, que a quantidade de prédios praticamente fechou a área em volta do parque.

Sérgio Augusto Portela - Gerente Geral da SANEPAR para Região Noroeste


Sendo assim, verificamos também a quantidade de fontes alternativas no decorrer dessas décadas no entorno do parque. No ano de 2000 havia 51 fontes. Em 2010 chegaram a 83 fontes e em 2021 totalizam 127 fontes. O que podemos constatar é que em período curto praticamente triplicou as fontes abastecidas por poços no entorno do parque.

A Sanepar possui identificadas em seu cadastro aproximadamente 1.100 matrículas na cidade de Maringá, em que o imóvel possui alguma fonte alternativa de abastecimento. Destas, no polígono especificado para esta pesquisa, foram identificadas 127 matrículas com fontes alternativas em atividade.

Só para se ter uma ideia do volume em litros de água retirado do subsolo dessas 127 fontes, a média do volume extraído é de 93.374.000 litros por mês ou 3.112 m3/dia. Este volume corresponde a aproximadamente 3,89% de toda água consumida pelos clientes da Sanepar do município de Maringá, que utilizam água distribuída pela Companhia, dentro de um mês.

 

A produção atual da Estação de Tratamento de Água de Maringá é de, em média, 80.000 m3/dia e sua capacidade máxima é de 108.000 m3/dia. A Sanepar, portanto, teria disponibilidade para fornecer água tratada a todos os clientes que utilizam atualmente essas 127 fontes alternativas dentro do polígono utilizados neste estudo, isso se os clientes voltassem a usar água da Sanepar.

Temos capacidade de aumentar a produção para 2.000 litros/segundo - 172.800 m3/dia garantindo fornecimento de água tratada frente ao crescimento do município pelos próximos 30 anos.

E a Sanepar, atendendo a legislação vigente, ao efetuar a análise dos Projetos Hidro Sanitários de novos loteamentos e condomínios, onde existe rede pública de abastecimento de água, condiciona a sua aprovação à utilização desta fonte de abastecimento da Companhia. Porém, em muitos casos, após a conclusão das obras são perfurados poços sem o conhecimento da Sanepar, que não possui prerrogativa para evitar esta perfuração/utilização.

A população opta pelo uso de fontes alternativas por motivos econômicos e acaba comprometendo o meio ambiente, porque ao se utilizar dessa fonte no subsolo compromete o que está no entorno. Os prédios mais antigos desta região da cidade (entorno do Parque do Ingá) que usavam fontes alternativas com poços de 60 a 80 metros de profundidade, cada vez mais estão sendo aprofundados em razão do manancial estar secando. Então eles estão tendo que descer 120 a 140 metros de profundidade e, em alguns casos, em até 300 metros de profundidade para encontrar água.

Essa foi nossa contribuição com a apresentação do estudo que ao nosso ver está afetando o manancial do Parque do Ingá".

 

👉Observação: O texto apresentado se refere a descrição da fala do referido palestrante durante a Reunião Pública: "Os lagos do Parque do Ingá estão secando. O que fazer?" Algumas adaptações foram necessárias, sem alterar o conteúdo da fala. Todo material foi submetido a autorização e aprovação pelos seus autores. O evento na íntegra pode ser conferido no Canal do YouTube da TV Câmara de Maringá https://youtu.be/0z2ZLtprW3A .


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