A série Parque do Ingá 50 anos: Preservar hoje para comemorar sempre tem como proposta apresentar informações relacionadas ao histórico e os desafios para o futuro dessa Unidade de Conservação que no ano do seu cinquentenário (2021) enfrenta grave problema de seca dos seus lagos.
Os primeiros quatro episódios desta série compõem a descrição dos relatos feitos pelos palestrantes convidados para Reunião Pública: “Os lagos do Parque do Ingá estão secando. O que fazer?”. O evento em questão foi realizado no dia 29 de setembro de 2021, no Plenário da Câmara de Vereadores de Maringá, reunindo representantes do Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente - COMDEMA, Comissão de Direito Ambiental da OAB Maringá, Sanepar e Secretaria de Meio Ambiente e Bem-Estar Animal de Maringá. A comunidade presente também participou com perguntas e considerações que enriqueceram o debate sobre a temática.
O material será apresentado em episódios para destacar as contribuições de cada especialista. Neste terceiro episódio intitulado Qual o potencial impacto dos poços nos lagos do Parque do Ingá? o relato é de Sérgio Augusto Portela - Gerente Geral da SANEPAR para Região Noroeste
"A Sanepar vem acompanhando com muita preocupação,
principalmente em relação às fontes alternativas de abastecimento que cada dia
mais se multiplicam, não só na cidade, mas principalmente aqui nesta região. A
gente preparou uma apresentação bastante técnica para tentar trazer mais
elementos do que vem ocorrendo na cidade de Maringá.
Quando eu vim para Maringá, uma das minhas principais
impressões da cidade, era arborização e parques. Então é com muita tristeza que
a gente vê o que vem acontecendo ao longo dos anos, devido a degradação. Talvez
por conta da verticalização excessiva do entorno do parque, que acabou gerando
esse problema interno.
A SANEPAR desenvolveu um estudo baseado nas fontes
alternativas, com análise dos poços particulares que existem nas proximidades
do Parque do Ingá. Nesse sentido, preparamos um histórico ao longo dos anos do
que vem ocorrendo, e concluímos que os poços particulares podem ter correlação
direta com a redução do nível do lago.
A área delimitada da pesquisa é um polígono compreendido
entre as seguintes ruas e avenidas: Getúlio Vargas, Cerro Azul, Juscelino
Kubitschek, Mem de Sá, Nardina Rodrigues Johansen, Furtado de Mendonça, Mauá e
Joubert de Carvalho. Esta é a área que a gente acredita que tenha maior
influência dentro do entorno do manancial que pode estar influindo na redução
da vazão da água do lago.
Apresentamos uma evolução da verticalização do entorno do
Parque do Ingá, retirada da imagem do Google Earth dos anos de 2003, 2010 e
2021, que dá para ter uma noção de como era a cidade e de como ela está. É
possível verificar nas imagens, comparando a de 2010 e de 2021, que a
quantidade de prédios praticamente fechou a área em volta do parque.
Sérgio Augusto Portela - Gerente Geral da SANEPAR para Região Noroeste |
Sendo assim, verificamos também a quantidade de fontes
alternativas no decorrer dessas décadas no entorno do parque. No ano de 2000
havia 51 fontes. Em 2010 chegaram a 83 fontes e em 2021 totalizam 127 fontes. O
que podemos constatar é que em período curto praticamente triplicou as fontes
abastecidas por poços no entorno do parque.
A Sanepar possui identificadas em seu cadastro
aproximadamente 1.100 matrículas na cidade de Maringá, em que o imóvel possui
alguma fonte alternativa de abastecimento. Destas, no polígono especificado
para esta pesquisa, foram identificadas 127 matrículas com fontes alternativas
em atividade.
Só para se ter uma ideia do volume em litros de água retirado
do subsolo dessas 127 fontes, a média do volume extraído é de 93.374.000 litros
por mês ou 3.112 m3/dia. Este volume corresponde a aproximadamente 3,89% de toda
água consumida pelos clientes da Sanepar do município de Maringá, que utilizam
água distribuída pela Companhia, dentro de um mês.
A produção atual da Estação de Tratamento de Água de Maringá
é de, em média, 80.000 m3/dia e sua capacidade máxima é de 108.000 m3/dia. A
Sanepar, portanto, teria disponibilidade para fornecer água tratada a todos os
clientes que utilizam atualmente essas 127 fontes alternativas dentro do
polígono utilizados neste estudo, isso se os clientes voltassem a usar água da
Sanepar.
Temos capacidade de aumentar a produção para 2.000
litros/segundo - 172.800 m3/dia garantindo fornecimento de água tratada frente
ao crescimento do município pelos próximos 30 anos.
E a Sanepar, atendendo a legislação vigente, ao efetuar a
análise dos Projetos Hidro Sanitários de novos loteamentos e condomínios, onde
existe rede pública de abastecimento de água, condiciona a sua aprovação à
utilização desta fonte de abastecimento da Companhia. Porém, em muitos casos,
após a conclusão das obras são perfurados poços sem o conhecimento da Sanepar,
que não possui prerrogativa para evitar esta perfuração/utilização.
A população opta pelo uso de fontes alternativas por motivos
econômicos e acaba comprometendo o meio ambiente, porque ao se utilizar dessa
fonte no subsolo compromete o que está no entorno. Os prédios mais antigos
desta região da cidade (entorno do Parque do Ingá) que usavam fontes
alternativas com poços de 60 a 80 metros de profundidade, cada vez mais estão
sendo aprofundados em razão do manancial estar secando. Então eles estão tendo
que descer 120 a 140 metros de profundidade e, em alguns casos, em até 300
metros de profundidade para encontrar água.
Essa foi nossa contribuição com a apresentação do estudo que
ao nosso ver está afetando o manancial do Parque do Ingá".
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